sábado, 19 de dezembro de 2009

Aqui reina a hipocrisia!


"O moralista é um conservador, um defensor das normas sociais estabelecidas. Por ter posse da moral, ele se torna um pregador. parecendo um religioso, que passa a se considerar uma espécie de juíz, um Deus, que tem o direito de julgar todos a partir do cânone abstrato composto pelas normas de sua moral."
Nildo Viana- Crítica ao moralismo
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"Você condena o que a moçada anda fazendo
e não aceita o teatro de revista.
Arte moderna pra você não vale nada
e até vedete você diz não ser artista.
Você se julga um tanto bom e até perfeito,
por qualquer coisa deita logo falação.
Mas eu conheço bem o seu defeito
e não vou fazer segredo não.
Você é visto toda sexta no Joá
e não é só no carnaval que vai pros bailes se acabar.
Fim de semana você deixa a companheira
e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira.
Segunda-feira chega na repartição,
pede dispensa para ir ao oculista
e vai curar sua ressaca simplesmente,
você não passa de um falso moralista"
Paulinho da Viola - Falso Moralista


Hoje houve reunião aqui no condomínio onde moro, para discutir a conduta das crianças e dos adolescentes. Não frequentei a reunião pois além de não estar presente no condomínio no momento, me impaciento com o falso moralismo inerente à alguns moradores.
Apesar de não estar presente, os assuntos discutidos já chegaram ao meu conhecimento.
Imaginem que agora está para se aprovada uma medida que proibirá as garotas de usarem shorts nas imediações condominiais. ¬¬
( Porque na certa as mulheres são as fontes de toda perversão e elas desvirtuam os homens...ME BATA UM ABACATE!)
*E mais, jovens para namorarem, necessitarão entregar ao síndico uma autorização assinada pelos pais, dizendo que os mesmos estão cientes daquele relacionamento.*
O que os condôminos, juntamente com síndico/sub-síndico estão pensando? Que eles podem mandar na vida de todos os moradores, e decidirem o que vão vestir, o que vão comer e com quem vão sair?
Ao invés de ter uma placa com o nome do condomínio, deveria ter " Bem- vindos ao recinto onde todos são puros e corretos, aqui ninguém erra, aqui todos respeitam todos, e ninguém cuida da vida do outro". Ao invés de estarmos em um condomínio, sinto que isso aqui está virando um reduto de "boas condutas e boas maneiras" e que todos são s-a-n-t-i-f-i-c-a-d-o-s. *Viva a hipocrisia! *

O que mais me impressiona é que existem pessoas ainda apoiam este tipo de ato. . . Esse ato de pessoas que acham que tem poder para decidir tudo. E a liberdade de cada um? Quer dizer que agora terei que sair de vestido longo de casa? Ou melhor, de burca e véu?
É muito fácil criticar o vizinho, a filha do vizinho, a esposa do vizinho, as visitas do vizinho, porque eu sou santo, minha filha é santa, minha esposa é santa, e minhas visitas são santas. É fácil eu falar que os filhos do vizinho fumam e bebem muito, porque meus filhos são p-e-r-f-e-i-t-o-s, eu nunca os peguei cometendo nenhuma falha.
*Pausa para pensar...*
Talvez eu nunca os tenha pegado cometendo falhas porque ao invés de eu cuidar deles, eu perdi tempo criticando os filhos alheios, eu perdi tempo falando do short da filha da minha vizinha, chamando-a de espótica... Eu perdi tempo falando das esposas que preferem ficar recolhidas em suas casas, chamando-as de metidas e anti-sociais... Na verdade, eu deixei de olhar para a minha vida para me preocupar com a dos outros.

Não sou a pessoa da mente mais aberta, mais " pra frentex" não, mais existem coisas que são exageradas. Ô meu povo, em que mundo vocês estão? Que mente retrógrada é essa? Que moralismo é esse?
*Ah porque ninguém erra aqui, colega! *
Porque ninguém veste short, porque nós, homens, detentores da pureza não andamos sem camisa, porque nós, portadores de tamanha inocência não temos pensamento libidinoso, porque ninguém bebe, porque ninguém beija, porque, porque, porque......

Existem assuntos mais sérios a serem tratados em reuniões, tais como a destruição de orelhões, bancos, mesas e sombreiros pelos próprios usuários; os gritos infernais das crianças ao lado das casas dos moradores, a falta de respeito delas para conosco (*E NÃO SÓ DAS CRIANÇAS, que fique bem claro, tem muito adulto mal-educado por aqui também *) entre outras coisas, que nem chegam perto das roupas utilizadas pelas garotas e nem dos relacionamentos formados pelos adolescentes.
Discutamos assuntos que são urgentes à todos, e não mostremos a nossa caretisse, e a nossa opinião sobre questões que não nos dizem respeito.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Agora eu tenho 2º grau completo, e já pertenço às estatísticas de pessoas desempregadas :)


“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” (Fernando Pessoa)


Após contarmos os dias ansiosamente, e falarmos “o fim está próximo”, enfim ele chegou. Quinta-feira estávamos no colégio para comemorarmos a nossa formatura. Não, formatura não, perguntaram há pouco tempo “ Por que formatura? Em que vocês estão se formando?”. Então, a pedidos, estávamos lá na cerimônia de conclusão do ensino médio.
Foi um ano muito difícil, onde foi necessário superarmos as angústias e os medos para que conseguíssemos chegar aqui. Foram renúncias, festas que deixamos de ir, horas que deixamos de sair, sábados fazendo provas, nos quais poderíamos estar na praia tomando sol, mas, nos permitam o clichê, no final tudo valeu à pena. Nós amadurecemos e mudamos muito, não só fisicamente, afinal, apesar da “síndrome de Peter Pan” inerente a muitos, chegou a hora de virarmos adultos e de arcarmos com nossas responsabilidades.
Não chegamos a esse amadurecimento sozinhos, precisamos de comandantes, marinheiros, pois ao longo da nossa vida escolar fomos como barcos, dependentes de comandos para seguirmos direções. Nossos marinheiros nos ensinaram suas respectivas matérias com primor, nos mostraram que o conhecimento nunca é excessivo, pois no futuro, ainda que levem todo o nosso dinheiro e bens materiais, há uma coisa que jamais poderão retirar de nós: nossa sabedoria e inteligência. Alem disso, aprendemos que riscar paredes é coisa de gente da pré-história, afinal papel já foi inventado. Aprendemos que os discursos não são neutros, pois existem implícitos em todas as falas. Todas não, pois o redator cometerá um grande erro se generalizar, então, há implícitos em quase todas as falas. Aprendemos também que a vida não é fácil, que a vida é dura, e se quisermos moleza, sentemos no pudim.
E após tantos ensinamentos, agora, nós, barcos, temos a necessidade de continuarmos navegando na correnteza, mas agora sozinhos, sem nossos marinheiros nos guiando, apenas seguindo o caminho que nos foi mostrado.
Parte do que nos tornamos também é responsabilidade das nossas famílias. Pessoas que conviveram com a nossa aflição, com o nosso discurso exaurido: não aguento mais escola, estou cansado dessa rotina. E mesmo com tudo isso, foram pacientes, compreensivos, e nos deram todo apoio em nossa vida escolar.
Ao longo desse tempo em que fomos colegas, aprendemos muitas coisas, que talvez até agora não tivéssemos dado a devida atenção. Foi muito tempo de convivência, muitos de nós passaram um período maior aqui do que em nossas próprias casas. Permanecerão por toda a nossa vida todos os momentos que vivemos nessa instituição. Histórias, sorrisos, gritos, abraços, beijos e rostos que jamais serão esquecidos. Não diremos que tudo sempre foi "numa boa", e que todos se amavam. Não é verdade. Muitos erros cometemos para acertarmos as diferenças. Às vezes brigando foi possível entender certas coisas. Mas lá cultivamos verdadeiras amizades que jamais imaginamos que sentiríamos tanta falta. Aposto que a saudade que sentiremos uns dos outros não será maior que a saudade das noites perdidas da véspera da prova de Física, não é? Poucos sabem o que é passar uma madrugada estudando e outros não têm ideia do que é passar várias madrugadas tomando café e comendo cream cracker.
Brincadeiras a parte, só agora percebemos que esse tempo não voltará jamais. Não veremos mais todos os dias os rostos de nossos colegas dizendo "bom dia". Não haverá mais uma palavra amiga, ou alguma piadinha, quando algumas vezes chegávamos à escola com problemas de casa. Foi tão especial permanecer ali que ainda que fosse possível prolongar o tempo para não chegarmos ao presente momento, ainda assim pareceria que tudo passou com imensa velocidade.
E, com os olhos “abarrotados de lágrimas e a voz embargada de emoção” nós nos despedimos daquele local, que durante muito tempo foi como nossa segunda casa.
Obrigado a todos vocês que farão com que nos lembremos dessa época feliz, um passado feliz, apesar de não nos sentirmos preparados para chamá-la assim, de passado, porque aprendemos a ler, escrever, raciocinar e executar cálculos, mas não aprendemos a sentir saudades.
Sentirei saudades de muitos, em especial aqueles que foram mais próximos de mim, e que me cativaram de algum modo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Seria Amélia a mulher de verdade?






"Mulheres em praça pública incendiando seus sutiãs é sem dúvida um forte símbolo do movimento feminista. Há quarenta anos as discriminações sofridas as impulsionaram a reivindicar mais espaço social, político e econômico, e a queima de sutiãs (ou bra-burning) é apenas um aspecto marcante. Desde então, quebraram-se alguns tabus, principalmente em relação à sexualidade, somado à busca por nivelamentos salariais em comparação ao ganho masculino no mercado de trabalho. Definições clássicas do feminismo o restringem a lutas que tensionam a relação entre os sexos. Porém, vemos hoje uma nova configuração de movimentos feministas com organizações em prol dos direitos das mulheres, contrapondo-se a visões negativas a respeito do feminismo, com a afirmação de que foi derrotado. A herança de adeptas do bra-burning é perceptível a partir do momento em que mulheres passam a ocupar posições antes restritas aos homens." Monike Mar (olharvirtual.ufrj.br/2006/index.php?id_edicao=226&codigo=4)







Ontem estava no shopping e fiquei revoltada ao entrar em uma loja de roupas e ver uma blusa masculina com o desenho de um fogão, e a seguinte frase: Precisa-se de pilota. ¬¬
A sociedade brasileira ( e não só a brasileira, refiro-me ao Brasil por ser a minha realidade mais próxima) ainda precisa destruir alguns paradigmas que colocam a mulher submissa ao homem e em condições de subordinação. É importante que haja uma superação dos valores hipócritas e discriminadores, fruto de uma colonização patriarcal e de uma emancipação feminina ainda incipiente.
As senhoras de engenho, dedicadas e dependendes dos seus maridos, compuseram a primeira forma de relação androcêntrica no Brasil colonial. A submissão delas nunca fora contestada, mas era evidente. O maior desafio hoje é desconstruir os valores machistas presentes no inconsciente coletivo - a mulher como procriadora e rainha do lar- e valorizar o verdadeiro sentido da essência feminista - um ser com desejos, necessidades, angústias e que possui vontades próprias, tal qual o homem.
A inserção da mulher no mercado de trabalho, o direito ao voto, a ascensão da mesma no quadro social, apesar do machismo e da discriminação, vêm evidenciando o quanto o "SEXO FRÁGIL" tem se mostrado forte na luta pelo reconhecimento social e por uma maior igualdade entre o ser feminino e o masculino. Vale ressaltar que igualdade almejada é de direitos e oportunidadess, não uma padronização, já que existem valores singulares que diferenciam ambos os sexos.
Se Amélia, " QUE NÃO TINHA A MENOR VAIDADE", era a mulher de verdade, é louvável que tenham existido e que existam Joanas, Simones, Matildas, Angelas, Bettys, Carolinas e Priscilas para provar o contrário. Para provar que a mulher é um ser que merece ser respeitado e admirado, e que deve estar no mesmo, ou acima, do patamar social que o homem ocupa.
E se alguém te revoltar, cara amiga, queime seu soutien, mostre que você não é rainha do lar, que você não nasceu para servir homem algum, e que não importa o que pense a sociedade sobre a mulher ser frágil ou não, porque a essência feminina vai muito mais além do que procriar ou servir como "objeto de estudo anatômico" para alguém.